Entrar numa redação pela primeira vez pode ser uma sensação estonteante. Eis cinco conselhos que podem ajudar neste “admirável mundo novo”.

Quem diz que a vida de estagiário é fácil está a mentir. Chegar de malas e bagagens a uma redação de um meio de comunicação e integrar-se nos turnos não é simples. E a meu ver, há algumas razões para isso: primeiro, as redações estão cada vez mais magras porque há cada vez menos jornalistas nas equipas; segundo, o volume de trabalho é imenso e, por causa disso, há menos jornalistas com tempo para explicar como funcionam as coisas. Além disso, não nos podemos esquecer do fator online; terceiro, os estagiários estão a léguas de perceber como se comportam os jornalistas de determinado turno, porque cada um tem a sua idiossincrasia, apesar de as rotinas jornalísticas serem idênticas.

Até hoje, tive duas experiências de estágio: a primeira, na Rádio Clube da Covilhã (RCC), que adorei e me fez crescer; e a segunda na TSF, que me fez absorver muitos ensinamentos e amadurecer ainda mais. Eis cinco conselhos que podem ser úteis na entrada deste “admirável mundo novo”.

1 – Chega sempre antes da hora

Muitas pessoas adoram dormir de manhã (é o meu caso), outras preferem aproveitá-la. De uma maneira ou de outra, chega sempre antes da hora à redação. Quando comecei no turno da manhã 2, na TSF, a hora para estar na redação era às nove da manhã. Mas uma hora antes já lá estava, sentada numa das secretárias a ler o que marcava a atualidade nesse dia. Chegares mais cedo é uma mais-valia porque consegues manter-te informado e, assim, já vais preparado para a reunião da equipa. Por outro lado, também te permite aprofundar algum assunto sobre o qual não tens tanto conhecimento. Isto também se aplica quando sais em reportagem.
Além disso, no teu local de estágio, é importante conviveres com outros colegas estagiários e jornalistas, desde que essa convivência seja saudável.

2 – Anota tudo

Numa redação a informação viaja quase à velocidade da luz. Na rádio, cada segundo importa. Por isso, o pouco tempo que o editor ou jornalista tem é precioso e não pode ser desperdiçado com coisas superficiais. Vai preparado com um caderno e caneta, ou então utiliza o bloco de notas do teu telemóvel, e anota tudo: desde as explicações no software de edição, às dinâmicas dos jornalistas, às rotinas nos estúdios de gravação. É importante que registes essa informação para depois não te esqueceres quando estiveres a manusear o software ou precisares de fazer uma entrevista por telefone no estúdio de gravação. Claro que, se tiveres uma dúvida, deves sempre tirá-la ou então praticares o famoso “tentativa-erro”.
Mas atenção! Esta última manobra é mais arriscada, avalia bem se o deves fazer. Outro benefício em teres contigo um bloco de notas (analógico ou virtual) é que podes registar alguns conselhos que os jornalistas dão a outros ou então que te dão a ti. Assim, podes rever os aspectos a melhorar para a próxima vez que escreveres uma peça ou auxiliares um jornalista.

3 – Nas horas livres, pratica

Como estagiário(a), vais ter algumas horas mortas em que não te é pedido nada. Aproveita esses tempos e pratica: vai à procura de notícias e transforma-as numa peça; ou então pega num assunto que determinado jornalista já tenha feito peça e não a ouças/leias/vejas; faz a tua própria peça e depois compara-as. Vais encontrar muitos aspetos a melhorar e que te podem ser úteis para o futuro. Para além disso, quando terminares a tua peça, pede a opinião a um jornalista. Com certeza que te vai ajudar a encontrar os teus pontos fortes e aqueles em que precisas de melhorar. Caso não possas praticar por alguma razão em específico, auxilia os jornalistas do teu turno de uma maneira útil: já que eles não têm tanto tempo, procura tu a informação. Vê se há breaking news noutros países, atenta nos takes das agências noticiosas. É sempre uma mais valia.

4 – Sê humilde, perguntar não ofende

Não, este número não é o podcast do Daniel Oliveira. Mas podia ser, já que perguntar não paga imposto. Quando estiveres numa situação em que não estás a perceber o contexto, não tenhas vergonha de perguntar. A resposta, essa, vai-te permitir entender melhor o assunto e não vais precisar de perguntar novamente. Há muitas temáticas que nem sempre estamos a par, eventos que estão no passado e que agora se refletem no presente. Se não sabes, pesquisa. Se alguém te pergunta se sabes o que é, não tenhas vergonha de não saberes. Responde que não e pergunta o que é. Sê humilde nesse aspeto, porque o saber não ocupa lugar e não ter conhecimento sobre tudo não é sinal de fraqueza.

5 – Proatividade é chave

Durante o teu estágio, não estejas à espera que alguém te dê trabalho ou que se lembrem de ti. Faz com que se lembrem de ti. Por isso é que a proatividade é a chave: procura temas, eventos, ocasiões que aches que tenham interesse para o editor e propõe. O ‘não’ é garantido e por essa razão mais vale lutares por um sim. Não desanimes se ouvires muitos nãos; faz parte e é isso que te faz crescer e praticar o chamado “olho” de jornalista. Há sempre um sim à tua espera, mas talvez tenhas de levar alguns nãos. A maior parte das reportagens que fiz no meu estágio da TSF foram propostas por mim ao editor, mas pelo caminho levei uma carteira de nãos. Não vou mentir: custa. Mas depois vale a pena. Chega-te à frente para saíres em reportagem com jornalistas, para assistires a entrevistas, porque ao observares também aprendes. E muito!

Não te esqueças de uma coisa muito importante: pelo meio, tenta descansar o máximo que puderes e evita levar o estágio para casa. Os problemas e as reportagens ficam na redação. Fora de portas, aproveita para espairecer: não só te dá mais criatividade, como é necessário para manteres uma mente sã.

Para aqueles que vão começar esta incrível viagem, boa sorte!