É verdade, existe uma Santa Corona e as pesquisas no Google estão ao rubro.

Reza a lenda que na atual Síria, há cerca de mil e 800 anos, viveu uma jovem de nome Corona. Tinha 16 anos e professava a sua fé em Jesus Cristo, apesar de Marco Aurélio, imperador romano, condenar os crentes à morte.

O problema é que Corona demonstrou publicamente a sua religião ao confortar o soldado romano Victor, também ele cristão, na sua condenação. E a morte de Corona, já previsível, não é muito agradável de se imaginar: foi amarrada a duas palmeiras dobradas que, quando se soltaram, lhe rasgaram o corpo.

Mais tarde, Victor e Corona foram considerados santos. Mas segundo um artigo da National Catholic Reporter, nenhum dos dois era o protetor das epidemias. Santa Corona passou a ser conhecida como a padroeira dos caçadores de tesouros e não porque descobriu um, mas sim porque um caçador orou à santa e as suas preces foram ouvidas. Quem conta esta versão é Candida Moss, professora de Teologia na Edward Cadbury na Universidade de Birmingham, no Reino Unido, citada no artigo.

Contudo, a Diocese Católica Romana de Lansing, no Michigan, acredita na Santa Corona como a protetora das epidemias: “É incrível, mas aparentemente é verdade – existe uma Santa Corona e ela é uma das padroeiras das pandemias”, lê-se no mesmo artigo.

Ainda antes do surto do COVID-19, a Catedral de Aachen, na Alemanha, decidiu retirar o santuário de bronze, ouro e marfim de Santa Corona, uma relíquia que não era vista há 25 anos. Este artefacto era para ser exposto numa mostra de artesanato de ouro, mas o vírus com o mesmo nome da Santa fez com que a exposição fosse adiada, revela uma reportagem da Reuteurs.

Os especialistas da catedral enfatizam que Corona é a Santa padroeira da proteção das epidemias porque o vírus “ao microscópio, parece um globo com pequenos glóbulos, parecendo uma coroa”, lê-se na reportagem. De facto, Corona, em latim, significa Coroa. E numa das visões da jovem mártir, ainda antes de padecer, viu uma coroa em si e outra no Santo Victor. É por esta razão que a Santa é sempre representada com uma coroa na mão e que, simultaneamente, deu origem ao seu nome.

“Como muitos outros santos, Santa Corona pode ser uma fonte de esperança nestes tempos difíceis”, aponta Brigitte Falk, chefe da Câmara do Tesouro da Catedral de Aachen, citada pela Reuteurs. Contudo, a teóloga Candida Moss, mencionada pelo National Catholic Reporter defende que não se deve acreditar: “Prefiro que não, mas se um número suficiente de pessoas decidir que Santa Corona é a santa padroeira do coronavírus, ela tornar-se-á apenas nisso”.

A verdade é que a Santa Corona está a ter sucesso nas pesquisas do Google e há quem lhe ore a pedir que a pandemia termine e que a vida como a conhecemos regresse ao normal. Mas será esse o normal que queremos?

Fotografia: Santa Corona. Créditos, Getty Images.

2 respostas

  1. Ora valha-nos a Santa Corona mas… sem vírus. Muito bom, Ana Sofia Paiva. Fico á espera do próximo artigo. ❤️?